É preciso voltar?
Eu sempre acabo sumindo, voluntariamente ou não, na vida real e online. Mas ainda existe essa obrigação de voltar? ALERTA: Pensamentos de uma ex twitteira crônica.
Eu não escrevo aqui há MESES.
Pois é. O tempo tem uma característica engraçada pra mim: ou passa rápido demais ou lentamente… de forma tortuosa. Mas não é assim pra todo mundo, afinal? Talvez. O que dificulta mais ainda minha relação com o tempo é esse espaço de retorno. Até onde é razoável e ok reaparecer? Ou pedir uma desculpas? Ou responder àquelas mensagens que estão há meses na caixa de entrada e que, por um motivo ou outro, simplesmente ficaram sem resposta no que é considerado um tempo “hábil” no mundo VUCA de hoje?
Eu sinceramente não quero respostas fáceis. O que me captura a escrever agora é, por exemplo, o fato que o Twitter - o qual sempre me recusei e continuarei a recusar a chamar de X - estava fora do ar em terras brasileiras, graças a uma grande birra de um bilionário que eu adoro apelidar de ‘Kiko do Espaço’ e seu descumprimento com as leis vigentes do nosso país, e um jurista que francamente conseguiu ser excessivo e leviano diversas vezes. Na prática, isso significa que muitas pessoas perderam uma rede social - no big deal, pra muita gente. Mas pra outras… a coisa é mais complicada.
O Twitter é uma das poucas redes ainda focada em conteúdo textual na internet. De uma década para cá, lá no começo de forma ainda lenta e gradual através de fotos, toda rede quer se propor à ideia de vídeos, preferencialmente curtos, onde naturalmente toda informação precisa ser condensada de forma muito, mas muito rápida. Não que através de texto isso não seja possível, afinal o Twitter começou limitando seu pequeno texto a apenas 140 caracteres. Só que a diferença é que eram 140 caracteres que poderiam ser repetidos, feitos e usados diversas vezes, à sua própria necessidade. Depois, aumentaram este mesmo limite para 280 caracteres, o que pra mim, sendo prolixa quase que por natureza, era uma maravilha.
Eu ainda acredito que o formato do Twitter é o mais amigável para quem queria fugir do cinismo e performance perfeitinha de outras redes. Ali, existe um senso geral de que quem escreve sobre o seu dia, ou um assunto específico, poderia simplesmente abdicar de muitos filtros sociais, sem aquela pressão para aparecer sorrindo ou forçando um sotaque rápido que vídeos curtos estão implementando na linguagem geral da internet. É o lar dos que problematizam quase tudo - o que quase sempre resulta em altas pérolas com análises sociais feitas sem fonte ou estudo algum - mas ao mesmo tempo, é lar de piadas e humor completamente bobo, e tudo isso com palavras.
Devo abrir um bloco aqui para comentar sobre um fato inegável que é: por focar em texto, o Twitter automaticamente se torna uma alternativa bem melhor para pessoas com deficiência. Pois é. Pessoas que usam leitores de tela dependem muitas vezes do pouquíssimo senso comum de pessoas descreverem suas imagens na internet, e pessoas com deficiência auditiva, por exemplo, também dependem desse mesmo senso comum quanto a legendagem de vídeos. Em uma rede majoritariamente textual, esses dois fatores se tornam quase que automaticamente barreiras diminuídas, já que o site e o aplicativo também tinham equipes esforçadas (até 2022 pelo menos) em criar uma experiência de uso acessível. Sendo eu mesma uma pessoa com deficiência devo dizer que, pra mim e pra tantos outros colegas, existe também o fato de que no Twitter você não precisava mostrar seu rosto ou conversar de forma privada para ter mutuals (amigos quase próximos mas não tão íntimos assim).
Continuando…
Eu não sei bem como voltar. E talvez por isso que naquela rede eu me sentia mais livre pra falar só o que pensava, naquele momento, sem muito compromisso dessa coisa toda que chamam de “continuidade digital” ou “manter sua audiência engajada”. A palavra engajamento vem me dando certa gastura e pra quase todo mundo ali, tem o mesmo sabor indigesto. Eu quero muito não perder o hábito de escrever, de compartilhar o que penso. E não quero ter que depender de redes sociais voláteis para isso. É tempo de voltar.
Houve um período onde eu não tava muito afim dessa vida de “blogueira”, que meio que eu mesma construí mas que logo percebi que demanda muita, mas muita coisa que hoje é pasteurizada. Mas assim como não quero viver para filmar, escrever ou me pressionar a tornar TUDO que faço e experiencio em conteúdo… não quero ter a sensação de que estou sozinha, falando coisas para as paredes brancas porém muito bem decoradas aqui da minha casa.
Acho que no fim é sobre voltar, entender que esse lugar digital que antes fora meu refúgio na verdade já estava sendo extremamente difícil de conviver há muito tempo. Pessoas dessensibilizadas, tragédias que chegam de forma muito rápida até a tela do telefone e uma sensação geral de que muitas milícias virtuais estavam propagando conteúdos abertamente misóginos, racistas, capacitistas e de mau gosto em geral. É tempo de entender que nem tudo que a gente um dia já gostou ou até mesmo se apaixonou era realmente saudável ou legal. E entendendo isso… eu só quero escrever e continuar escrevendo.
Que você, seja quem for, aonde estiver, possa me acompanhar nisso tudo.
A ideia é tentar criar uma publicação semanal de reflexões e recomendações de qualquer coisa que eu ache interessante nessa internet mundo afora, e também ter artigos autorais e críticas cinematográficas, das quais eu mesma sinto falta de escrever, por aqui.
Enlutados do meu twitter, do tempo dos blogs, da simplicidade de uma web escrita… uni-vos através desses pequenos momentos. Mas por favor, não quero ser internet famous. Só quero escrever.